sexta-feira, 26 de junho de 2015

Meio ambiente: futuro incerto?

Meio ambiente: futuro incerto?
Gerson Romero de Oliveira Filho é geógrafo e professor.



A problemática ambiental constitui uma das maiores questões de nosso tempo. Governos, empresas, instituições financeiras, comunidades tradicionais e sociedade civil organizada incorporaram o discurso ambientalista, com argumentações e preocupações preservacionistas ou conservacionistas. Obviamente, percebemos lógicas discursivas distintas na defesa do que todos chamam de meio ambiente. Isso nos faz pensar que também existem interesses distintos e diferenças na compreensão da questão. Do despertar da consciência ecológica (década de 1960), passando pela primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (Estocolmo 1972) até a Rio + 20 (2012) vivenciamos muitas propostas. Foram apresentados novos paradigmas como o conceito de desenvolvimento sustentável e protocolos importantes como o Protocolo de Montreal (1987), o Protocolo de Kyoto (1997) e o Protocolo de Nagoya (2010). Ainda na Rio+ 20, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) oficializou o conceito de “economia verde”, ou seja, “aquela que resulta em melhoria do bem estar humano e da igualdade social ao mesmo tempo em que reduz, significativamente, os riscos ambientais e a escassez ecológica.” Uma economia pouco intensiva em carbono, eficiente no uso de recursos naturais e socialmente inclusiva. Vandana Shiva, física, ecofeminista e ambientalista, participou da Rio+20 e, em entrevista, defendeu que: “sustentabilidade e justiça social são inseparáveis e não teremos uma sem a outra.” É uma concepção avançada, embora não exista consenso sobre a possibilidade de se conciliar os interesses do capital com a preservação ambiental e a justiça social. No entanto, o que percebemos ao longo de todo esse tempo, é que a realidade pouco mudou. De Estocolmo (1972) até os dias atuais as emissões de carbono, os desmatamentos, a poluição hídrica, a fragmentação de ecossistemas e a degradação dos recursos naturais aumentaram. Por outro lado, as economias cresceram, dinamizaram-se e alcançaram a escala planetária, seguindo a lógica que prioriza o crescimento econômico como objetivo fundamental das políticas governamentais e empresariais. Obedecendo esse princípio, a natureza se consolida como mercadoria (capital natural) e o homem, a serviço do capital, se reafirma como um fator de produção (trabalho). Os benefícios desse modelo ficam concentrados nas mãos de poucas pessoas e/ou empresas, enquanto as externalidades negativas do crescimento econômico (poluição, escassez ecológica e injustiças social e ambiental) são socializadas. A impressão que temos é que, de fato, os avanços na área ambiental foram modestos e restritos à imposição de instrumentos legais de regulação (Políticas ambientais, licenciamento ambiental, fiscalização, Unidades de Conservação). Segundo a filósofa política Hannah Arendt “a Terra é a própria quintessência da condição humana e, ao que sabemos, sua natureza pode ser singular no universo”. Essa singularidade nos obriga a questionar se ainda é possível reconstruir a relação mutualística que a sociedade tinha com a natureza, respeitando seus ciclos biogeoquímicos. Mas sabemos que é pouco provável, afinal, o tempo social se superpôs, de modo irreversível, ao tempo da natureza, através das tecnociências e das imposições do mercado. Para o teólogo Leonardo Boff, “a humanidade perdeu o sentido de totalidade, o sentimento de que nós, seres humanos, pertencemos a um todo maior, primeiro à natureza depois à Terra, por fim ao cosmos”. Logo, a crise ambiental é também uma crise de nossa civilização. Uma crise que nos faz refletir sobre os valores, influenciados pela racionalidade econômica, que direcionam nossa existência no planeta – o ter mais do que ser e o poder sobre os outros e sobre a natureza. Portanto, se a problemática ambiental é inerente à existência humana, o que podemos fazer? O que temos é a proposta do desenvolvimento sustentável. Mas esse conceito carrega uma contradição fundamental que nos obrigar a questionar: como é possível alcançar altas taxas de crescimento econômico e, ao mesmo tempo, garantir qualidade ambiental para as atuais e futuras gerações?